BIBLIOTECA DA ESCOLA DE MONTE GORDO

19
Mar 10

A poesia acontece todos os dias. Façamos das nossas vidas um longo e mágico poema e a caminhada que iniciámos, no dia do nosso nascimento, será uma festa na complexa aventura de viver.

 
Pedra Filosofal
 
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
 
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
 
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
 
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
 
In Movimento Perpétuo, 1956

 

António Gedeâo

Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX. Publicou ainda outros estudos, como História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979).
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.
Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). Na data do seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago de Espada.


 

Com o objectivo primeiro de defesa da diversidade linguística, a UNESCO decidiu, em 1999, proclamar o dia 21 de Março Dia Mundial da Poesia.

publicado por bibliocentro às 10:31
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música: Pedra filosofal - Manuel Freire

18
Mar 10

 

 

O encantamento continua até o príncipe ou a princesa aparecerem....

publicado por bibliocentro às 11:27
sinto-me:

12
Mar 10

 

 

 Na Semana da Leitura do ano lectivo de 2009/2010, como já o tínhamos previsto, as palavras, as histórias (e as estórias), os autores, os editores, os gráficos e, até, os lenhadores (não nos podemos esquecer que o suporte que acolhe as mágicas palavras, pelo menos desde Gutemberg, começa aqui: na morte da árvore que explode em vidas e histórias nas páginas de um livro) estariam à solta na nossa Escola, possuindo os que nela habitam e transportam consigo.

O testemunho de um desses momentos mágicos, vamos deixá-lo aqui, quase sem comentários. Palavras de poetas portugueses cantados por duas alunas, acompanhadas instrumentalmente por dois professores e seguidas por meia centena de alunos e alguns professores  encantados ( no sentido das histórias de encantar) pela magia da fusão entre a poesia e a música.

 

Organização da BECRE

Coordenação da Professora Bibliotecária Francisca Rolla

 2 de Março de 2010
 
 

 

Poemas cantados por: Nádia Catarro e Mar Gonzalez

 

Acompanhamento musical:José Rosa e Óscar Janeiro

 

 

Temas e palavras de :

“Verdes são os campos” – Luís de Camões

“Vejam bem” – Zeca Afonso

“No teu poema” – José Luís Tinoco

“Ser poeta” – Florbela Espanca

 

publicado por bibliocentro às 10:34
sinto-me:
música: Verdes são os anos

29
Jan 10

 

Adeus

 

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.

Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor,


já não se passa absolutamente nada.


E no entanto, antes das palavras gastas,


tenho a certeza


de que todas as coisas estremeciam


só de murmurar o teu nome


no silêncio do meu coração.



Não temos já nada para dar.


Dentro de ti


não há nada que me peça água.


O passado é inútil como um trapo.


E já te disse: as palavras estão gastas.



Adeus.

publicado por bibliocentro às 10:37

21
Jan 10

 

Na próxima sexta-feira dia 29 de Janeiro, pelas 21h30, decorrerá a apresentação do livro O sul dos meus sonhos de Teresa Rita Lopes, com a presença da autora e apresentação de José Carlos Barros.

 

Teresa Rita Lopes é um dos maiores especialistas contemporâneos 
em Fernando Pessoa

tem centrado o seu trabalho académico na obra deste poeta 
e dedica-se especialmente à divulgação 
da parte inédita da sua obra.


Tem uma forte relação com o Algarve, em especial com Cacela, onde tem casa e viveu parte da infância.
 
Biografia
 

Nasceu em Faro, em 1937. Viveu 13 anos em Paris onde foi professora na Sorbonne e defendeu a tese de doutoramento "Fernando Pessoa et le drame symboliste – héritage et création". É professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa. 

Teresa Rita Lopes é um dos maiores especialistas contemporâneos em Fernando Pessoa, tendo centrado o seu trabalho académico na obra deste poeta e dedicando-se especialmente à divulgação da parte inédita da sua obra. 

Dirige um grupo de investigadores que produziu várias obras, nomeadamente um guia de Lisboa, escrito por Pessoa, com traduções em várias línguas (espanhol, francês, italiano e duas em alemão). 

Das obras produzidas individualmente em português destaca-se Pessoa por conhecer (2 volumes, mais de 400 inéditos) e uma edição crítica: Álvaro de Campos – Livro de Versos (mais de 80 poemas inéditos).

Organizou várias exposições sobre Fernando Pessoa, em Espanha (inauguração em Madrid, itinerante por toda a Espanha), no Brasil (inaugurada em S. Paulo, depois itinerante) e em França (Paris, Centre Pompidou – Beaubourg). 

Tem-se dedicado à obra de Miguel Torga, sobre a qual tem vários ensaios. Tem além disso colaborado regularmente em várias publicações literárias portuguesas e estrangeiras, quer no domínio do ensaio, quer da poesia.

Dedica-se à poesia, tendo três livros publicados e, regularmente, a teatro. 

Tem peças publicadas e representadas em Portugal e no estrangeiro: França, Bélgica, Itália, Roménia, Alemanha. A sua peça Se Mentes (Wenn du lügst – Samen) foi escolhida para representar Portugal no Festival de Autores de Teatro na Bonner Biennale 94 – e posteriormente representada em Munique e em Roma.

 

publicado por bibliocentro às 11:06
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22
Abr 09

 

A UNESCO escolheu esta data para celebrar o dia mundial do livro e dos direitos de autor  como forma de, também, assinalar a morte física de dois grandes monstros das palavras: Miguel de Cervantes Saavedra e William Shakspeare. Digo morte física porque estes autores universais , como o cantou Camões, " se foram da morte libertando" através de "obras valerosas". Estão hoje mais vivos do que nunca e as suas palavras chegam mais longe e tocam mais fundo do que nunca.

 

       Miguel de Cervantes                                        William Shakespeare

 

Encerramos a nossa singela homenagem aos grandes escritores e aos livros com dois belíssimos poemas do grande poeta algarvio, António Ramos Rosa.

 

 

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.

 

Poema dum Funcionário Cansado

 

 

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só

 

publicado por bibliocentro às 11:08
sinto-me:

04
Abr 09

 

Ahmed Tahiri, professor catedrático de História Medieval, apresentou hoje o livro - Cacela e o seu poeta Ibn Darraj al-Qastalli, na História e Literatura do al-Andalus - resultado da sua investigação sobre a vida e obra deste poeta, natural de Cacela.

A apresentação do livro decorreu  no cemitério antigo de Cacela Velha e do programa constou ainda  uma inauguração da toponímia de Cacela Velha - poetas que nasceram ou escreveram sobre Cacela, tais como Sophia de M. B. Andresen, Eugénio de Andrade, Teresa Rita Lopes (presente no acto)-, leitura de poemas de Ibn Darraj, concerto de música andalusina e flamenco.
 


Chamam-te, escuta a sua voz.
A vida sorri-te, bebe desse vinho e saboreia-o,
é promessa de uma nova Primavera que chega.
É flor que atrai
com sua fragrância de almíscar,
bela e sensual.
Do seu caule de esmeralda libertam-se
folhas de prata e pétalas de ouro
que se entrelaçam como filamentos de seda
e se erguem como um cálice para te brindar
num inesgotável inebriamento.

 

ps. Um enviado especial da BE/CRE esteve presente e fez a reportagem.

publicado por bibliocentro às 21:53

21
Mar 09

O Guardador de rebanhos de Álvaro de Campos ("nascido" em Tavira), heterónimo de Fernando Pessoa, interpretado pelo actor e declamador Mário Viegas.

publicado por bibliocentro às 23:26
sinto-me:

18
Mar 09

A poesia ao rubro no auditório da nossa Escola. Dina Roque, aliás a poetisa Cyombra ( um trocadilho/anagrama com a sua amada Coimbra), arrasou com a sua verve poética e com a sua empatia natural. Escritora e declamadora convidada para um recital na Semana da Leitura deixou os alunos surpreendidos com a sua irreverência e energia. Um verdadeiro furacão  poético...

 

Aqui a vemos entre os alunos extasiados e com um sujeito abananado pela alucinante proximidade da artista.

 

publicado por bibliocentro às 11:31

12
Mar 09

Durante a Semana da Leitura estivemos silenciosos, aqui pelo Bibliocentro. O trabalho foi tanto que não conseguimos pôr os dedos nos teclados. Vamos ver se conseguimos ir, aos poucos, dando a conhecer a avalanche de actividades relacionadas com a leitura e os livros que impregnaram de palavras a nossa Escola nessa semana mágica.

 

Começamos com a leitura de "poemas matemáticos", acrósticos e outros textos, tudo produzido e lido ( muito bem lido, aliás) pelos alunos do 6ºA e do 5º B.

 

 

 

 

Nos próximos dias continuaremos a deixar testemunhos das leituras, dos recitais, do teatro, das exposições do... do... verdadeiro tsunami cultural que varreu a Escola.
publicado por bibliocentro às 11:19
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António Aleixo
E vós que do vosso império prometeis um mundo novo calai-vos que pode o povo q`rer um mundo novo a sério.
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